quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O homem deve ter se julgado o mais sem graça dos bichos quando se viu nu e sem pêlo diante da beleza dos outros animais.
Quantos desenhos diferentes eles tinham sobre a pele: listras, círculos e pintas! Protegendo-lhes o corpo, pelos longos e sedosos. Chifres e bicos surgiam imponentes.
E o homem, coitado, com a pele sem desenhos, a cara sem bico, a cabeça sem enfeites. Pior: nenhum sinal no corpo que dissesse aos outros animais, quem, afinal ele era.
Um dia, ficou admirado só de ver as penas multicoloridas dos pássaros e as escamas reluzentes dos peixes - tudo brilhando sob a luz do sol.
Olhou para o próprio corpo e desejou ser diferente.
Esfregou pó de madrepérola na pele para deixa-la mais brilhante, misturou urucum com gordura para fazer tinta vermelha, e com um pincel feito de lasca de madeira criou lindos desenhos no corpo todo.
Mas, temendo que o desenho virasse um borrão, descobriu uma técnica mais ousada: com uma espinha de peixe bem pontuda inseriu a tinta por debaixo da pele.
Sentiu uma dor profunda.
O efeito porém haveria de durar pra sempre.
Teve de cuidar da ferida por alguns dias, com ungüento. E depois comemorou orgulhoso: nem a água nem o sal poderiam arrancar o desenho de sua pele.
Ainda não era o suficiente. Inventou de atravessar o septo nasal com um osso da largura de um dedo, e de espetar penas de beija-flor sob os lábios.
Quem pode dizer não ter sido essa a origem da pintura corporal, da tatuagem e do piercing?



Leuza Araujo, Tatuagem, piercing e outras mensagem do corpo.

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